quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Uma cena inesquecível.

Desde que acordei, senti que hoje seria um dia NO MÍNIMO diferente, já que estamos no dia 13 (número de azar pros supersticiosos) de agosto (mês do desgosto). Adivinha? Minha previsão foi correta. Estou atônita até agora pelo que aconteceu.

Pela primeira vez, a aula de quinta-feira foi legal e as horas passaram relativamente rápido. Peguei um ônibus pro terminal. Chegando lá, peguei o primeiro São Cristóvão/Zona Oeste que passou. Subi e achei um lugar vago. Estava pronta a tapar meu rosto com o casaco e dormir, porém, algo prendeu minha atenção.

No terminal seguinte, subiu uma mulher com dois filhos. TODOS no ônibus pararam pra observar. Apesar de serem muito pobres e estarem visivelmente maltratados pela miséria e a fome, os três eram de uma beleza hipnotizante. Ela vinha na frente, segurando o menorzinho em um braço, um pacotinho de fraldas no outro e seguida do filho mais velho.

O rapaz sentado à minha frente ofereceu o lugar a eles, mas não por educação, apenas porque se sentiu incomodado com a presença daqueles estranhos postados a seu lado. A mulher sentou-se com os meninos e o motorista deu a partida. O menino mais velho tinha no máximo cinco anos, mas sua estrutura corpórea e sua frieza faziam com que ele já parecesse um adulto. O pequenino era só brilho, seus olhos faiscavam e seu sorriso era contagiante. A mãe, apesar de muito suja, tinha um olhar de ternura incrível.

Todas as pessoas perto e longe de mim cochichavam sobre aquela família. Alguns com pena, alguns com raiva, muitos com nojo. Eu simplesmente observei. Eles agiam estranhamente. A mãe percebeu os olhares das pessoas e ficou envergonhada, seu brilho logo sumiu. Os filhos começaram a reclamar de fome, e o desespero da mãe ficou exposto. Ela se segurava pra não chorar e repetia a todo momento: - "Calma, calma, a gente vai arrumar o que comer, daqui a pouco a gente chega, calma..." -

De repente, os garotos esqueceram um pouco da fome e foram brincar. Eles se abraçavam e sorriam um com o outro, e foi aí que descobri o nome do pequenininho: Fernando. Deveria ter seus dois anos (ou menos), mas foi com uma dicção incrível que virou-se pra mim e disse: - "Olha, mãe! Moça bonita!" - E soltou uma gargalhada que fez meus olhos brilharem.

Foi nessa hora que lembrei de meu lanche, ainda dentro da mochila. Meu instinto foi maior que qualquer preconceito daquelas pessoas ali do lado, e eu ofereci as únicas coisas que estavam ao meu alcance: meu pacote de biscoitos e alguns minutos de minha companhia. E ficamos ali, como se fôssemos velhos conhecidos, lanchando, sorrindo e conversando algumas coisinhas.

Quando vi, já havíamos chegado em São Cristóvão e meu ponto se aproximava. Então eu perguntei pro mais velho se ele gostava de escrever, ao passo de que ele me respondeu: - "Sim, gosto muito. Tem umas palavras que eu escrevo errado, mas eu vou melhorar, prometo" -

Então abri minha mochila, peguei meu estojo, escolhi a minha melhor caneta e disse: - "Olhe, essa é uma caneta mágica. Ela faz com que tudo que você escreva fique pra sempre na sua mente. Mas só vou lhe entregar se você me prometer uma coisa" -

E antes mesmo de eu propôr minha condição, ele já prometeu. Estava vidrado na caneta. Mesmo assim eu disse que só iria entregar meu presente se um dia ele escrevesse sobre mim. Ele sorriu e disse: - "Certo, moça, vou escrever de você na casa de minha vó, e vou fazer um desenho, e vou lembrar de você sempre. Eu gosto do presente, obrigado" - Depois virou pra mãe e disse: - "Também vou escrever de você, mãe, e de Fernandinho, e de vovó" -

Mas a mãe respondeu: - "Meu filho, a gente já vai descer e você nem perguntou como é o nome dela! Como você vai escrever de alguém que você não sabe o nome? Aliás, você disse seu nome a ela?" -

E o garoto disse: - "Ela não precisa saber meu nome. Eu sou o menino da caneta mágica e ela é a moça bonita do ônibus, e é assim que vou me lembrar dela." - Foi a última coisa que ele me disse antes de descer e me mandar um beijo junto com o Fernandinho.

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