Ainda é tarde e mais uma vez chove, dessa vez mais forte. Faz muito frio e eu não procuro cobertor; pela janela dá pra ver que o Sol não resiste às pesadas nuvens que lhe cercam. Tudo está cinza e triste, um silêncio quebrado apenas pelas fortes batidas das gotas de chuva no chão, nas telhas, nas plantas que se encharcam...
Visto minha melhor roupa e saio de casa, encontro-me com a rua. A chuva aumenta; traz consigo relâmpagos e trovões. Sinto que gosto desse clima e junto-me à água que cai do céu fazendo companhia ao chão; sinto cada gota que escorre por meu corpo. Fecho os olhos, o frio aperta, mas ao mesmo tempo, faz com que eu me sinta viva.
Meu coração acelera; não sei quem sou, o que quero, sinto medo de tudo e não encontro solução alguma. Estou cercada e não quero lutar; acho que faltam forças, ou coragem, ou vontade. A vida continua e eu posso me entregar, afinal, não existe derrota absoluta ou vitória eterna...
Porém, eu não sei de nada disso. Ninguém me contou que não existe saída, eu ainda acredito que tudo vai dar certo um dia, mas não percebi que a chuva aumentou, que o frio está insuportável e que este não é o meu lugar. As gotas me ferem quando caem e eu estou deitada aqui há horas. Anoiteceu, meus pais irão chegar e eu ainda não despertei, não me dei conta de que estou desistindo de todos os sonhos, de todas as pessoas e até de mim mesma. Onde vim parar?
Não quero achar respostas, regras são apenas palavras ditas. Saio sorrindo, mesmo com os olhos cheios de lágrimas. Ergo a cabeça e, apesar de tudo, faço coisas boas e tento evoluir a cada dia, mesmo que isso não seja tão importante para alguns.
Às vezes sorrio para as pessoas e isso não me machuca nem toma muito tempo. Busco o Sol com certa freqüência para lembrar que o frio não é tudo. A noite acabou, o amanhecer estende os braços e sou tomada por uma súbita sensação de vivacidade. A chuva se foi, mas deixou como presente a Esperança, minha mais nova companheira.
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